sábado, dezembro 26, 2009

Morte

Hoje recebi a notícia do falecimento de uma amiga de infância, Verônica Kubo. Ela faleceu aos 18 anos, ontem (25/12/09, Natal), em um acidente de carro na Rod. Castelo Branco.
Fiquei chocado e triste. Pela injustiça da morte de alguém tão jovem, que, assim como eu, devia ter planos e mais planos para o futuro. Por pensar na família que ela deixou para trás. Por saber que aquela pessoa, tão de repente e simplesmente, não existe mais aqui.
Nunca esperamos a morte de ninguém, muito menos de pessoas assim jovens. Pensamos no quanto ela ainda teria para viver, nos planos que devia ter, em como seria se ela vivesse o que devia viver. Por isso parece tão injusto. Mas, ao mesmo tempo, a morte e tão imprevisível e inevitável que parece acima de julgamentos sobre sua justiça. E, na verdade, aquelas possibilidades não existem. O que acontece só acontece de um jeito. O "como seria" só pode existir na nossa mente. "Como foi" é a verdade. Ela viveu o que tinha para viver.
Mesmo assim, atormenta a evidência de que "a vida é uma agitação feroz e sem finalidade/Que a vida é traição". Que assim como os dela, todos os planos podem ser interrompidos a qualquer momento, sem possibilidade de contestação, pela chegada ao único destino da vida. É como se a morte fosse o único e verdadeiro "plano", que é o plano da própria vida.
Mas, na verdade, acredito que ela ainda existe, de alguma outra forma, em algum outro lugar. Existe algo mais em nós, além da vida. Não somos a vida. A vida está em nós. A vida estava nela. Agora ela continua, sem essa vida. E esse mistério é inquietante, graças à quase impossibilidade de nos desapegarmos da vida, não importa o que aconteça.

terça-feira, novembro 24, 2009

Campanha contra Dilma

Recebi um e-mail pedindo que não votemos em Dilma Roussef. O argumento usado era o envolvimento dela no lançamento, em 1968, de um carro-bomba contra um quartel do exército em São Paulo; o atentado causou a morte de Mário Kozel Filho.

Em primeiro lugar, parece que não é comprovado o envolvimento de Dilma. Isso não consta nem na tal ficha do DOPS - conhecido como "currículo de Dilma".

Em segundo lugar, mesmo que seja verdade, usar isso como campanha contra a Dilma é um golpe político baixo. O "grupo terrorista" que atacou o quartel não queria assassinar "o" Mário Kosel Filho; eles queriam atingir a organização que estava matando centenas de outras pessoas: o exército. Num período como aquele, as ideologias ficam mesmo exarcebadas, mas dos dois lados. A violência foi usada por ambas as partes, mas ainda mais frequente, forte e hediondamente pelo Exéricito, que matou, traumatizou e mutilou centenas de outros jovens como Kozel.

NÃO QUERO a Dilma para próxima presidente (Deus nos livre!), mas me revolta ver que chegamos ao absurdo de haver pessoas querendo até exaltar o governo da ditadura para poder rebaixar a Dilma que lutava contra essa ditadura. Ver como a política, aqui, é cada vez menos séria e mais inconseqüente.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Os Últimos Dias - Carlos Drummond de Andrade

Que a terra há de comer.
Mas não coma já

Que ainda se mova,
para o ofício e a posse.

E veja alguns sítios
antigos, outros inéditos.

Sinta frio, calor, cansaço;
pare um momento; continue.

Descubra em seu movimento
forças não sabidas, contatos.

O prazer de estender-se; o de
enrolar-se, ficar inerte.

Prazer de balanço, prazer de vôo.

Prazer de ouvir música;
sobre papel deixar que a mão deslize.

Irredutível prazer dos olhos;
certas cores: como se desfazem, como aderem;
certos objetos, diferentes a uma luz nova.

Que ainda sinta cheiro de fruta,
de terra na chuva, que pegue,
que imagine e grave, que lembre.

O tempo de conhecer mais algumas pessoas,
de aprender como vivem, de ajudá-las.

De ver passar este conto: o vento
balançando a folha; a sombra
da árvore, parada um instante,
alongando-se com o sol, e desfazendo-se
numa sobra maior, de estrada sem trânsito.

E de olhar esta folha, se cai.
Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.

Tem na certa um cheiro, particular entre mil.
Um desenho, que se produzirá ao infinito,
e cada folha é uma diferente.

E cada instante é diferente, e cada
homem é diferente, e somos todos iguais.
No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
o silêncio global, mas não seja logo.

Antes dele, outros silêncios penetrem,
outras solidões derrubem ou acalentem
meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um torso
de mil anos, recebe minha visita, prolonga
para trás meu sopro, igual a mim
na calma, não importa o mármore, completa-me.

O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz
da vida ficou mais forte, e os naufrágios
não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas;
que os objetos continuam, e a trepidação incessante
não desfigurou o rosto dos homens;
que somos todos irmãos, insisto.

Em minha falta de recursos para dominar o fim,
entrentanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,
tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,
tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.

E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
partida menos imediata. Ah, podeis rir também,
não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.

O tempo de despedir-me e contar
que não espero outra luz além da que nos envolveu
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
pequena ampola fulgurante, facho, lanterna, faísca,
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.

A doença não me intimide, que ela não possa
chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.
Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
sou todas as comunicações, como posso ser triste?

A tristeza não me liquide, mas venha também
na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
que lute lealmente com sua presa,
e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
ao fim da batalha perdida.

Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,
nos bolsos, nos pratos se insinue: com sórdido ou potente clarão.
E todo o mell dos domingos se tire;
o diamante dos sábados, a rosa
de terça, a luz de quinta, a mágica
de horas matinais, que nós mesmos elegemos
para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
de cada um de nós, no tempo.

E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
ditas antes com voz firme, os pensamentos
maduramente pensados, os atos
que atrás de si deixaram situações.
Que o riso sem boca não a aterrorize
e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
dedos torcidos, lívido
suor de remorso.

E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
adeus, vida aos outros legada.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Explicações Místicas - Mercúrio Retrógrado

Coincidências demais!
Vários amigos tiveram o celular roubado ou o perderam nos últimos dias. Eu estava usando meu celular mais do que nunca tinha usado antes. Comentei, com três pessoas, em uma semana, o quanto eu gostava daquele celular e não queria perdê-lo.
Logo depois, o perdi num táxi. Consegui recuperar no mesmo dia, porque percebi 5 minutos depois que desci do táxi. Quatro dias depois, ele foi roubado. Três dias depois, comecei a usar o antigo do meu pai e... ele começou a dar defeito.
Depois de ser roubado, achei que podia ser um misto de olho gordo com lei da atração. Afinal, eu tinha comentado com pessoas que perderam seus celulares o quanto eu gostava do meu e, ao falar isso, fiquei com medo de perder o meu também (energias negativas) e posso ter atraído mal olhado de quem já tinha perdido. A coisa mais lógica e racional do mundo, quando se pensa misticamente.
Além de tudo, descobri que Mercúrio estava retrógrado nesse período! Todas as explicações místicas fazem sentido!
Depois vão dizer que é bobagem? Humpf...

(Tudo isso era alternado com pensamentos sobre a grande probabilidade do mesmo acontecer com qualquer pessoa que: 1 - estivesse com bolso faca no táxi e mexesse nele; 2 - andando em São Paulo a pé às 23:00h; 3 - usando um celular da Sony Ericsson - 90% de chances de ter defeitos... Mas essas coisas não fazem tanto sentido!)

quarta-feira, agosto 05, 2009

Invictus - William Ernest Henley

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o capitão da minha alma.

quinta-feira, junho 18, 2009

Conflitos na USP - Samuel Godoy

Texto interessante, racional e coerente, escrito por Samuel Ralize de Godoy, no blog Cidadania Inclusiva, sobre os conflitos na USP:

Conflitos na USP - Blog Cidadania Inclusiva

sexta-feira, junho 12, 2009

O Confronto com a PM no Campus Butantã

O que aconteceu foi horrível e, como a maioria das coisas horríveis, extremamente desnecessário!

Nada justifica a quantidade de violência usada pela polícia. E, com o que aconteceu, as pessoas que defendiam, ou que, pelo menos, não tinham nada contra a presença da PM no campus, não podem mais manter essa posição.

Não podemos, no entanto, continuar com essa visão de que os estudantes são santos e a polícia é o mal encarnado. Ninguém estava certo! Houve exageros dos dois lados. O erro da polícia é muito mais grave, com certeza, mas apenas porque esta tem armas mais poderosas nas mãos (que são grandes estímulos para o exercício do poder, principalmente quando se está em um confronto, com raiva), que também teriam sido usadas pelos estudantes se fosse possível.

É fato que os estudantes provocaram. Toda a hostilidade contra a PM já existia mesmo antes dela fazer qualquer agressão a qualquer pessoa. Como já disse, nada justifica o exagero da polícia. Mas, se tentamos nos imaginar no lugar da PM, é possível pelo menos entender o que desencadeou essa reação: eles estavam lá por obrigação, cumprindo ordens, foram chamados; não estavam lá por livre e espontânea vontade, porque queriam machucar alguns estudantes. E, AINDA sem ter feito nada, eram tratados como monstros, como tiranos, assassinos, que não podiam entrar na universidade. Além disso, eram ofendidos e provocados pelos estudantes, xingados até de "cornos", sem poder reagir (justamente por causa de sua posição de policiais).

Tudo isso, com certeza, gerou muita raiva nos policiais, que só precisavam de algum motivo que permitisse colocá-la para fora. Não podemos esquecer que eles são HUMANOS. E esse motivo foi dado quando os estudantes empurraram alguns policiais.

Vou ser bem chato e repetir que não estou justificando ou defendendo os policiais! Eles deveriam ser mais bem treinados e saber lidar muito melhor com a situação, saber se controlar. Mas, tampouco, posso defender incondicionalmente os estudantes, como parece ser a tendência geral.

Agora, os estudantes têm reais motivos para não querer a PM no campus. Mas esses reais motivos foram procurados pelo próprio movimento estudantil, que já era contra a PM antes de acontecer qualquer confronto, por motivos simbólicos/ideológicos.

No fundo, o confronto é útil para o movimento estudantil, pois agora ele pode conseguir unir todos os estudantes contra a PM. Ninguém mais pode tentar defender que não se peça a retirada da PM do campus. O custo disso, no entanto, não valeu a pena...

Dois relatos sobre o confronto com a PM na USP

Seguem dois relatos que recebi. O primeiro é de um estudante; o segundo, de um professor.

"Versão de quem esteve presente do início ao fim, mais como espectador do que qualquer outra coisa...:

Lá pras 15h começou o ato no p1, os estudantes, funcionários e professores que estavam no ato, mais ou menos umas 700 pessoas, ficaram cantando, gritando palavras de ordem e confrontando os policiais da força tática (armados com o aparato do choque), jogando flores e mostrando livros. Isso durou umas duas horas, quando surgiram duas propostas: Voltar para a Reitoria e continuar o Ato lá, ou fazer uma "mini-passeata" até a Vital Brasil para depois ir para a Reitoria. Como a votação não deu contraste, houve um racha: um pouco mais da metade foi para a Reitoria (PSTU, Sintusp, independentes), outros ficaram na rua (MNN, independentes) e outros ainda ficaram em dúvida sobre o que fazer (LER-QI, Psol, outros independentes....).

Depois de uns dez minutos de discussão, decidiu-se que este segundo grupo iria voltar direto para a Reitoria, e o transito foi aberto, e os policiais foram se retirando (ou para a Reitoria ou para a Dp). No meio do caminho, os estudantes que voltavam encontraram quatro policiais da PM e começaram a gritar "Fora PM", cercando-os contra um tapume, e depois "empurrando-os" para fora. Esses policiais já estavam saíndo e as pessoas já estavam aplaudindo, quado chegaram umas 4 motos, mais uns 5 carros da PM, mais o Choque em formação e atiraram uma bomba de Efeito Moral. Detalhe: A rua cheia de carros de gente que não tinha nada a ver com isso.

A partir daí foi uma loucura: Muitos estudantes correndo, outros correndo e xingando, outros chamando uma resistência, alguns atirando pedras, alguns tropeçando, alguns sendo atingidos pelos estilhaços das bombas, outros sendo pegos e presos. A gente corria, e parava para ver se a tropa de choque também parava, mas eles continuavam vindo para cima, atirando quatro, cinco ou mais bombas de efeito moral. eles atiravam para cima, então você estava correndo e a bomba passava por cima de você, estourando lá na frente ou do seu lado. Também estavam distribuindo tiros de borracha e umas bombas de gás lacrimogênio mais leves.

Quado chegamos na Reitoria, encotramos o resto do pessoal do ato, e achamos que os policiais iam maneirar.. Mas cotinuaram jogando bombas... Saímos correndo e pensamos que eles iam ficar pela reitoria, mas eles continuaram seguindo. Fomos então para o prédio da História e da Geografia, e ficamos sitiados por lá. O Choque ficou do outro lado da avenida, junto com os carros de polícia que chegavam... umas dez viaturas.

Ficamos na borda do morrinho, alguns estudantes fizeram uma barreira na rua para parar o transito, um professor da pedagogia foi lá para conversar com o tenente coronel e levou spray de pimenta. Depois, alguns professores da Adusp, mais jornalistas e alguns estudantes foram lá também para conversar, mas caiu uma bomba de gás lacrimogênio bem no meio deles(daquelas beeeem fortes, que começa a arder tudo e você não consegue respirar), e os policiais começaram a atirar uma saraivada de bombas de gás no prédio da História. Ah, sim, a rua estava cheia de carros, e o prédio lotado de gente que não tinha nada a ver com o rolo.

A essa altura do campeonato, metade dos dirigentes do sintusp já tinham sido presos, alguns incautos que ficaram pra trás na correria também, e uns 4 ou 5 estudantes estavam no HU, por conta das balas de borracha e estilhaços de bombas.

Ficamos mais umas duas horas "sitiados" no prédio da história, houve assembléia de professores, e depois que o choque maneirou (foi para a reitoria) houve assembléia de estudantes na rua mesmo. Os professores tiraram uma comissão de negociação, e eu fui embora no meio da assembléia de estudantes, porque já tinha dado para mim.

Os estudantes vão pernoitar na usp, que ainda tá cheia de PM.

é isso

Abraços

Chiquetto"



Professor Rogério Monteiro de Siqueira:

"Prezados colegas, amigos e alunos,

estou estarrecido. Nunca pensei que ia viver isso na na nossa universidade. Uma indignação enorme me fez deixar a assembléia de professores no prédio da História e descer correndo para a reitoria. A informação que tinha chegado à nós era de que o batalhão de choque estava soltando bombas sobre os estudantes e funcionários na reitoria.
De alguma maneira, como professor, imaginei ter - junto com outros colegas - a força necessária para arrefecer o conflito. Era preciso evitar o pior, evitar que algum estudante se machucasse. Tínhamos visto nos jornais no dia anterior, policiais com metralhadoras.

Chegando mais perto, uma fumaça enorme, estudantes correndo, e um clima bastante ameaçador. Um aluno passou por nós dizendo que não devíamos ficar ali. Retruquei: Não. Vamos ficar aqui.

Descemos mais um pouco e uma tropa de choque, cacetetes, bombas, spray de pimenta, marchou em nossa direção.
Subimos a calçada, que passem ! Tratava de saber o que de fato ocorria, procurar responsáveis, tentar negociar, verificar se alguém estava ferido. Mais perto, um policial do batalhão - uns quinze - mandou a gente se afastar. Dissemos que éramos professores. Se afastem! gritaram. Somos professores! Eles jogaram spray de pimenta na nossa direção. O Thomás que estava um pouco mais a frente, de carteirinha na mão, recebeu o spray nos olhos. Saímos correndo. Uma bomba de gás caiu a um metro dos meus pés. Parei um pouco e olhei na direção dos policiais com toda a raiva que já pude sentir.

Um policial com uma bomba na mão olhou pra mim. Senti que iríamos receber mais um presente da corporação. Estupei o peito e falei gritando: Você vai jogar na gente? Somos professores! Você vai jogar?
O absurdo era tanto que fui mais absurdo ainda. Como eu podia fazer um negócio desses? Mas fiz.

Não dava mais para ficar lá. Chamei a Vivian Urquidi e o Jorge Machado para subir novamente até à História. O Thomás já tinha saído porque mal conseguia abrir os olhos. Meus olhos também ardiam muito.

Eu só gostaria de saber: o que um professor de carteirinha na mão, um outro com mochila nas costas, pasta em uma mão e blusa na outra, outra professora com uma flor na mão representam de perigo ao patrimônio da USP? Gostaria de saber até onde a tese de preservação do patrimônio se sustenta? Que espécie de comunicação e negociação é essa, que coloca policiais cegos a serviço da Reitoria? Para onde fomos? Para onde foi a experiência de 75 anos em produzir saber?

Saudações acadêmicas.

Rogério Monteiro de Siqueira

Professor Doutor EACH-USP
História e Geometria
http://www.each.usp.br/rogerms
Escola de Artes, Ciências e Humanidades - Universidade de São Paulo
Arlindo Bettio, 1000, Ermelino Matarazzo, 03828-000, São Paulo."

sexta-feira, junho 05, 2009

Greve na USP - Movimento Estudantil

O estopim foi a entrada da Polícia Militar no campus, a pedido da reitora, para fazer cumprir os mandados de reintegração de posse.

Não entendo porque a polícia pode estar em todo o resto do estado e não pode estar na USP. O que a polícia não pode fazer - seja na USP, seja em qualquer outro lugar - é abusar do seu poder. Não houve confronto. Não é a simples "presença" da polícia que constitui um problema. A polícia está em toda manifestação fora da USP, em toda concentração de massa (até em festas públicas, shows). A USP não é um santuário.

Além do mais, da última vez que não chamaram a polícia (na invasão de 2007), o prédio foi destruído, deixando um prejuízo enorme para ser coberto pelo dinheiro público. O movimento diz que chamar a polícia é não querer dialogar, mas destruir a reitoria também não é uma boa forma de buscar diálogo...

Enfim, a entrada da PM só serviu de ajuda para que os grupos que defendem a greve ganhassem força. Essa greve já estava pra sair de qualquer jeito.

O curioso é que esses grupos, que vivem fazendo discurso contra a repressão, reprimem os estudantes que não querem aderir à greve. Seja fazendo pressão psicológica (o que eles dizem ter sido o que a polícia fez), seja com barreiras físicas mesmo.

Outra curiosidade é como se espalha que a greve foi deliberada de uma forma democrática, com uma gigantesca assembléia de 1,500 alunos. O que são 1,500 alunos dentre os 55,000 (só de graduação) da USP inteira?

A política estudantil é feita de forma que qualquer pessoa que tenha outras coisas para fazer - às quais dá prioridade - não possa participar. O que é terrível, uma vez que é feita em um lugar como a USP (e para seus estudantes), em que, mesmo sem participação na política, é difícil se manter em dia com o curso. Não dá para ficar, pelo menos 2 vezes por semana, horas em reuniões que podem acabar sem nenhuma decisão (e com uma grande briga non-sense).

Isso afasta do movimento estudantil a maior parte das pessoas e ele fica livre para deliberar coisas que teriam grandes chances de serem barradas se todos os estudantes participassem. As pessoas que são contra a greve não têm ânimo para participar do Movimento Estudantil; as que são a favor quase que vivem para participar dele. É a "democracia dos politicamente ativos", que já ouvi certos grupos da FFLCH defendendo. (Os delegados de curso foram eleitos proporcionalmente às ASSEMBLÉIAS de cursos, não aos cursos em si) Quem não doa horas do seu dia para discussões do ME não tem direito a ser representado. Eles devem ter faltado nas aulas sobre Democracia do curso de Política I.

As votações deveriam acontecer por meio de urnas!

quarta-feira, maio 06, 2009

Planejando para a próxima semana de novo

Depois de fazer planos para a semana santa e para o feriado de Tiradentes (todos frustados, por motivo de doença ou de pura preguiça, de forças maiores), estou de novo fazendo planos para semana que vem. Vai acontecer a SECS (Semana de Ciências Sociais) e não terei aulas.
Dessa vez, porém, vou escrever os planos (e tomar vitamina C e cuidado com as correntes de ar). Vou mudar, também, a natureza deles. Dessa vez, não vou planejar estudar. Tá, vou planejar estudar, sim, mas não só isso. Antes, quero pôr em ordem algumas coisas que já estão procrastinada há tempo demais:
- Dar um rumo para todas as coisas que estão "por cima" no meu quarto (desde a outra casa);
- Dar um rumo para as coisas que estão no canto do corredor (desde a mudança);
- Pôr fotos nos porta-retratos vazios;
- Comprar controles novos e jogar fora os quebrados para poder, finalmente, usar de novo meu aparelho de DVD.

Isso é o mínimo. Não vou planejar mais, para não maximizar o risco da frustração.

Lado Místico
O tarot diz que é possível, se eu for flexível e agir com estratégia, sabendo tirar proveito das situações. (Ainda bem, porque em uma semana inteira tem que dar!) Se Deus quiser, assim será. :)

(Agora vou estudar Política!)

segunda-feira, abril 20, 2009

Dois beija-flores

Dois beija-flores
Com a madrugada
Vieram!
Tentaram com ela trazer alguma coisa
Insistiram!
Bateram!
E eu não deixei entrar...
Um esperou mais, bateu mais
Mesmo assim, pasmo, só observei.
E ele se foi também.
Fiquei esperando que voltassem
Ainda sem saber se abriria a janela
Mas os dois se foram e eu agora queria ir atrás deles.
Talvez um dia voltem.
Talvez um dia venham outros.
Talvez eu só fique esperando.
Ouvi as batidas antes e ignorei
Não olhei para a janela!
Perdi tempo...
Agora guardei uma foto mal-tirada
do que nunca pensei que aconteceria na vida real
(a vida real sendo aquela que é nossa).
Mas eles me deixaram alguma outra coisa
mesmo sem entrar...


domingo, março 22, 2009

Eu queria

Ser mais de um!
Não precisar dormir!
Melhor: que o tempo não passasse enquanto eu durmo.
Que o tempo não passasse! Não existisse.
Eu queria ser nuer.

quarta-feira, março 11, 2009

Desapego

Por que é tão difícil se desfazer de coisas?
Não sei se é por puro apego ao passado. Na verdade, é também por medo do futuro ("sempre pode acontecer algo que me faça precisar disto de novo"). E o apego ao passado e o medo do futuro vão tomando o espaço do presente.
O passado não vai se repetir. Não que não seja importante a memória que se guarda dele. Mas não adianta querer guardar lembranças de tudo que acontece. E será que é importante mesmo lembrar o que esqueceríamos naturalmente? Guardar uma lembrança externa de algo que já deixou de nos marcar por dentro? A sensação de encontrar um ingresso de cinema, meio amarelado, entre as páginas de um livro que se está relendo, é uma delícia. Mas não compensa a sensação de opressão que a falta de espaço cria no presente. A questão é ser mais seletivo com o que guardar. Mas como saber o que será uma lembrança importante no futuro?!
O futuro está sempre perto demais e é imprevisível demais para ser prevenido e longe demais para guardarmos algo que incomoda esperando por ele. Basta a cada dia o seu mal.
O que importa não é a origem; tampouco o destino: é o caminho. E não podemos aproveitá-lo quando estamos sobrecarregados - seja pelo passado, seja pelo futuro.
Por tudo isso, de tempos em tempos, temos que revirar o quarto e o armário e nos livrarmos do máximo de coisas possíveis. Abrir espaço para o novo.
Melhor ainda: não de tempos em tempos; todo dia, a todo momento, nos livrarmos de tudo que ocupa espaço inútil ou fica no meio do caminho.

Canção dos Tecelões de Lyon

Pour gouverner il faut avoir
Manteaux ou rubans en sautoir (bis)
Nous en tissons pour vous, grands de la terre,
Et nous, pauvres canuts, sans drap on nous enterre.
C'est nous le canuts
Nous sommes tout nus. (bis)
Mais notre règne arrivera
Quand votre règne finira.
Alors nous tisserons le linceul du vieux monde
Car on entend déjà la revolte qui gronde.
C'est nous le canuts
Nous n'irons plus nus.

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"Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nós tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem lençol onde nos enterrar.
Somos nós os operários
Nós estamos nus.
Porém, chegará o nosso reino
Quando vosso reino terminar.
Então nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa.
Somos nós os operários
Não estaremos mais nus."

(Hobsbawm, Eric J. A Era das Revoluções. p. 221)

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Festas da USP

Sexta-feira passada, aconteceria um churrasco. Não aconteceu. Ficamos só algumas pessoas conversando.
Esta quinta-feira (ontem), aconteceria uma festa para os bixos. Foi a mesma coisa que sexta passada, com um pouco mais de gente.
Dizem que é por causa do Carnaval...
Pode ser! Vamos ver no resto do ano.

Dos Filhos - Gibran Khalil Gibran

Dos Filhos


E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”

E ele disse:

Vossos filhos não são vossos filhos.

São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,

Pois eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,

Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.

O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:

Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Hino da USP

Li agora, no Guia. Foi feito no aniversário de 75 anos da USP, em 25 de janeiro de 2009.

Hino da Universidade de São Paulo
Letra: Paulo Bomfim
Música: Júlio Medaglia

Neste chão de São Paulo o universo
Do Saber faz seu campus de glória,
E da USP nascem caminhos
Moldadores dos rumos da História.

Das sementes lançadas por mãos,
Sábias mãos professando alvoradas,
Vão surgindo colheitas de auroras
E nascendo esperanças plantadas.

Deste chão das bandeiras de outrora
Partem hoje outros passos eternos,
E a cultura, bandeira de agora,
Vai plasmando horizontes modernos.

Dom de amor Faculdades formando
Vocações, nosso lar, nossa luz,
Mocidade que o tempo renova
Nesses templos que o sonho conduz.

Das sementes lançadas nos rumos
Surge a USP e seu dom de ensinar,
Gerações se sucedem no ideal,
Glória à USP e ao condão de semear.

Trote

Parece que o trote fez a minha ficha cair e eu perceber que eu entrei MESMO na USP e ficar mais animado do que nunca. Mesmo careca.
Quando ia entrar na sala da matrícula, um veterano já me perguntou se eu era bixo, tão limpo como estava, e pintou um C e um S em cada bochecha.
Terminada a matrícula, lá fora, já encontrei minha mãe pintada (não, ela não escapou! hehe) e fui cercado por quatro meninas que pintaram, pintaram, pintaram, cortaram o cabelo, me levaram para uma piscina de bolinha de isopor, jogaram espuma e me fizeram sambar. Foi uma delícia!

Fiquei um pouco pior que isso (na foto já tinha voado um monte de bolinha no caminho):


Para elas poderem saber quem eu era, depois de um banho, me deram o apelido de "bixo chiquinha", muito simpático, não sei tirado de onde.
Espero encontrá-las durante o ano de novo.
Mas que fique bem claro que eu aceitei o trote, porque faz parte. O pessoal é muito legal e eu poderia ter recusado e perdido a diversão. Como minha tia explicou, com palavras melhores, depois, é um "ritual de passagem". E, realmente, me senti nascendo para uma nova vida. Vale a pena!
E até que não fiquei muito mal careca. Tem gente que acha que ficou melhor, até. Sinceramente, é tão confortável (eu nunca imaginei que fosse tanto!) que estou ate pensando em manter assim...

Agora, esotu lendo o Guia e todos os papéis que recebi, com a história e infra-estrutura da USP, dicas e programações para a bixarada. Semana que vem, já começam as aulas magna e inaugurais (e festas e mais festas de boas-vindas). Mal posso esperar!

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Jantar com o Avô

Ontem, ainda quando eu estava no restaurante, meu avô me ligou:

-- Que horas você combinou com seu pai de ir jantar amanhã?
-- Às 19:00, vô.
-- Não, eu vou te pegar às 16:30.

Para que perguntou, então?
Esse lado da família é assim: marca um jantar e sai na hora do lanche da tarde... Meu avô é extremamente ansioso. Agora é meio-dia e, apesar de ele ter marcado às 16:30, lá pela 15:00 ele deve chegar aqui. E não é para uma audiência jurídica ou para fazer check-in no aeroporto; é para um jantar com a família!

Pizza Hut

Ontem, antes de saber o resultado, com aquele mix de ansiedade e espinhas, não estava afim de ir à Pizza Hut, comemorar o aniversário de um dos meus melhores amigos (se não o melhor).
Mas, conversando pelo msn, de madrugada, acabei sendo animado por alguns amigos e prometendo que iria (em troca de uma careta da Renata que quase me fez cair da cadeira de tanto rir). Depois do resultado, claro, me animei ainda mais.
Graças a Deus. Porque foi ótimo. A conversa foi excelente, as risadas foram ótimas, a comida foi muito boa. Matei um pouco da saudade das pessoas de quem sempre sinto saudade.
Também foi bom ver a alegria delas por mim. Eles querem ainda marcar alguma comemoração.
A única coisa ruim foi ter que tirar o dinheiro da poupança (o que, para o aniversariante, piadista de trocadilhos, foi muito engraçado), mas eu o reporei logo. E valeu.
Espero que eu ainda possa compartilhar muitos aniversários desse meu grande amigo, que faz muita falta para mim.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

FUVEST

Passei! :)
Quase não dormi de ansiedade para saber o resultado. Queria sabê-lo logo, fosse ele qual fosse, para ter alguma idéia do que seria da minha vida este ano. Felizmente, a ansiedade acabou.
Toda vez que penso no futuro, ele me aterroriza. Agora mesmo, ia escrever que esperava que este fosse o melhor caminho para mim (entrar na faculdade este ano). Mas, na verdade, não existe o melhor caminho. Só existe o caminho. Se foi assim, é porque assim era para ser.
Será o que tiver de ser. Um dia depois do outro, sem nada de aterrorizante.
A dúvida também serve para me fazer pensar sobre a vida e sobre as minhas escolhas.
E acredito que, agora, vou poder ter bases maiores para decidir o que quero, conhecendo mais e melhor as coisas. Acho que não sou indeciso; só não posso escolher entre as coisas que não conheço direito. (Ok, sou um pouco indeciso, sim... Nem sei decidir se o sou ou não.)
Mas, na hora certa, eu vou ter a certeza, sem nem perceber como ou quando passei a tê-la, como acontece com tantas outras coisas.

domingo, janeiro 25, 2009

Non Ducor, Duco

Parabéns, São Paulo!




SÃO PAULO

(Washington Olivetto)

Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania de achar São Paulo parecida com Nova York. Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com Nova York quem não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a conhece superficialmente e imagina que São Paulo seja apenas uma imensa Rua Oscar Freire.

Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso mesmo, não se parecer com nenhuma.

São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com Paris no Largo do Arouche, Salvador na Estação do Brás, Tóquio na Liberdade, Roma ao lado do Teatro Municipal, Munique em Santo Amaro, Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com a pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.

São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo, como o Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo embaixo das pontes. Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o ar mais poluído do país.

Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas também promove acidentes como o da cratera do metrô e o do avião da TAM em Congonhas.

São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de meia dúzia de paulistanos significa um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um alemão.

São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: têm diversos grandes times de futebol, sendo que um deles leva o nome da própria cidade e recebeu o apelido "o mais querido". Mas, na verdade, o maior e o mais querido é o Corinthians, que tem nome inglês, fica perto da Portuguesa e foi fundado por italianos, igualzinho ao seu inimigo de estimação, o Palmeiras.

São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo Oscar Maroni, do afamado Bahamas.

São Paulo já foi chamada de "o túmulo do samba" por Vinicius de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância discreta de suas meninas, corretamente constatada por Caetano Veloso, produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Glória Kalil.

Em São Paulo se faz pizzas melhores que as de Nápoles, sushis melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores que as de Lisboa e pastéis de feira melhores que os de Paris, até porque em Paris não existem pastéis, muito menos os de feira.

Em alguns momentos, São Paulo se acha o máximo, em outros um horror. Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.

São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins cariocas e agora são os cariocas que andam imitando as suas imitações paulistanas.

São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade brasileira a importar a CowParade, uma colonizada e pavorosa manifestação de subarte urbana, e agora o Rio faz o mesmo.

São Paulo se poluiu visualmente com a CowParade, mas se despoluiu com o Projeto Cidade Limpa. Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê para valer, coisa que os ingleses já provaram ser perfeitamente possível com o Tâmisa.

Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa, purificando o ar, organizando o mobiliário urbano, regulamentando os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões sonoras e melhorando o tráfego, São Paulo jamais será uma cidade belíssima. Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mamãe natureza, é fruto do trabalho do homem. Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que a cidade oferece, no clima de excitação permanente, na mescla de raças e classes sociais.

São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza, fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se manifesta.

São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as meninas que circulam pelas ruas.

E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local de fundação da cidade), a Estação da Luz (onde hoje fica o Museu da Língua Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e mais uma infinidade de lugares desta cidade que não pode parar, até porque tem mais carros do que estacionamentos.

São Paulo não é geograficamente linda, não tem mares azuis, areias brancas nem montanhas recortadas.

Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na maioria, são sociais.

Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito das belezas naturais, São Paulo se dá mundialmente muito bem por uma razão tecnicamente comprovada. Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio, Nova York e Cidade do México, em matéria de proximidade da beleza, São Paulo é, disparado, a melhor. Porque é a única que fica a apenas 45 minutos de vôo do Rio de Janeiro. O mais importante é que com essa distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo!

(Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário)