quarta-feira, março 11, 2009

Desapego

Por que é tão difícil se desfazer de coisas?
Não sei se é por puro apego ao passado. Na verdade, é também por medo do futuro ("sempre pode acontecer algo que me faça precisar disto de novo"). E o apego ao passado e o medo do futuro vão tomando o espaço do presente.
O passado não vai se repetir. Não que não seja importante a memória que se guarda dele. Mas não adianta querer guardar lembranças de tudo que acontece. E será que é importante mesmo lembrar o que esqueceríamos naturalmente? Guardar uma lembrança externa de algo que já deixou de nos marcar por dentro? A sensação de encontrar um ingresso de cinema, meio amarelado, entre as páginas de um livro que se está relendo, é uma delícia. Mas não compensa a sensação de opressão que a falta de espaço cria no presente. A questão é ser mais seletivo com o que guardar. Mas como saber o que será uma lembrança importante no futuro?!
O futuro está sempre perto demais e é imprevisível demais para ser prevenido e longe demais para guardarmos algo que incomoda esperando por ele. Basta a cada dia o seu mal.
O que importa não é a origem; tampouco o destino: é o caminho. E não podemos aproveitá-lo quando estamos sobrecarregados - seja pelo passado, seja pelo futuro.
Por tudo isso, de tempos em tempos, temos que revirar o quarto e o armário e nos livrarmos do máximo de coisas possíveis. Abrir espaço para o novo.
Melhor ainda: não de tempos em tempos; todo dia, a todo momento, nos livrarmos de tudo que ocupa espaço inútil ou fica no meio do caminho.

Um comentário:

Rita Amaral disse...

Você é jovem mais sábio que já conheci. E em lugar nenhum eu poderia guardar esse sentimento a não ser no coração do meu coração.