domingo, fevereiro 13, 2011

Cisne Negro - Black Swan


Acabo de voltar do cinema. Fui ver Cisne Negro.

É difícil e arriscado definir um único ponto alto para o filme, que é uma obra de arte muito bem orquestrada e complexa. Mas sem dúvida a atuação de Natalie Portman é decisiva. É até difícil descrever... Está fantástica e arrisco dizer, sem desmerecer os outros aspectos do filme, que é a maior responsável pela sua força. Mais do que captar a alma do filme, Natalie Portman "faz captar" quem assite. O filme conta com outros bons atores, mas o destaque da atriz chega a ofuscá-los (com exceção, talvez, de Barbara Hershey como coadjuvante). Além disso, as cenas e efeitos são muito bem construídos, bem como o arranjo musical - nem é preciso comentar sobre a música de Lago dos Cisnes, mas também o timing está no ponto.

Fui levado pelo filme, que me tocou forte. O jogo interno entre o cisne branco que Nina (Natalie Portman) sempre foi e o cisne negro reprimido, adormecido, que agora começa a se libertar e fugir ao controle, é realmente tocante. Acredito que todos temos esse cisne negro querendo se manifestar; eu, pelo menos, tenho. É muito difícil encontrar o equilíbrio e tentar simplesmente reprimir o cisne negro produz uma reação cada vez mais forte e piores conseqüências quando ele foge do controle e se manifesta. O drama de Cisne Negro é um drama que a maioria das pessoas enfrenta internamente, em maior ou menor grau.

Valeu muito a pena.
(Vou procurar outros filmes dirigidos por Darren Aronofsky depois para ver se estão à altura.)

domingo, janeiro 30, 2011

A (não-)morte de Rita Amaral

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim."
(Ausência - Carlos Drummond de Andrade)

"Impedimentos não admito para a união
de corações fiéis: amor não é amor
quando se altera ao perceber alteração
ou cede em desertar quando o outro é desertor.
Oh! Não, ele é um farol imóvel tempo em fora
que as tempestades olha e nem sequer trepida;
é a estrela para as naus, cujo valor se ignora,
mau grado seja a sua altura conhecida.
O amor não é joguete em mãos do tempo, embora
face e lábios de rosa a curva foice abata;
não muda em dias, não termina numa hora,
porém, até o final das eras se dilata.

Se isto for erro e o meu engano for provado
Jamais terei escrito e alguém terá amado."
(Amor Eterno,  Shakespeare)




Faleceu, no início da semana, Rita Amaral. Já foi dito em muitos lugares que ela era antropóloga importante, PhD; pioneira na divulgação de informações sobre a doença Osteogenesis Imperfecta e tratamento no Brasil, bem como na luta por tratamento e melhores condições de vida para os portadores, sendo co-fundadora da Associação Brasileira de Osteogenesis Imperfecta. Seus brilhantes trabalhos acadêmicos podem todos ser vistos em seu curríulo Lattes. Mas o que me importa mais do que tudo é que ela era minha tia. Mais que isso. Era minha alma gêmea, meu alter ego.

Até o começo dessa semana não sabia que era possível sofrer tanto. Ela, mais uma vez, me ensinou algo para o resto da vida. E se sofri de tal forma, foi certeira e exatamente conseqüência de tanto já ter ela me ensinado - uma parte tão grande de mim, já não apenas do que me "preenche", mas da minha própria essência. E continua me ensinando, mesmo depois da morte de seu corpo.

Estou aprendendo coisas que achava já saber simplesmente por ter lido ou ouvido. Estou aprendendo que sentimentos só se aprendem sentindo.

Estou aprendendo que há coisas incomunicáveis. E, portanto, inconsoláveis.

Estou aprendendo que dores da alma também doem no corpo.

Estou aprendendo que o amor verdadeiro é realmente eterno. Independe de tempo ou de distância; mesmo que seja a maior das distâncias físicas, a mais intransponível.

Estou aprendendo que as pessoas podem, de fato, não morrer.

Que a ausência não é falta. Muito ao contrário.

Que saudade é já uma presença.

Que o passado tem que ser aceito, porque não há outra opção.

É, estou aprendendo que há coisas incomunicáveis...

A principal lição (e também a mais difícil) ela vem ensinando desde sempre, com suas ações, a todos que a conheceram: ter coragem. E agora é o momento da prova de aprendizado: será preciso muita coragem para seguir em frente sem ela.

A saudade que ela deixa é enorme, em todo canto; quase tão grande quanto ela, que era completa, ampla, abundante, intensa, extensa. Ela personificava ideais e valores raros; preferia morrer a abandoná-los. Mesclava inteligência sem igual e intuição; conhecimento e ânsia de saber; razão e sensibilidade; informática e arte; seriedade e bom humor; sinceridade e gentileza; amizade e honestidade. Sempre é muito difícil descrevê-la. Tem-se dito muito, esses dias, que ela era forte. De fato, ela era (é, para mim). E, principalmente, corajosa.


 OoOoOoOo




sábado, abril 24, 2010

Napëpë, Biopirataria e Plágio


Napëpë


Um documentário muito interessante, produzido por Nadja Marin, em 2004, que trata das pesquisas do antropólogo Napoleon Chagnon sobre os Yanomami, o seu papel como intermediário entre eles e cientistas que recolheram amostras de sangue dessa população para pesquisas genéticas e a luta desses índios pela devolução do sangue até hoje utilizado sem o seu consentimento (e importante para os rituais funerais da sua cultura).

Napëpë ganhou o 8th Gottingen International Ethographic Film Festival e pode ser assistido em quatro partes, no Youtube:

Napëpë - parte 1

Napëpë - parte 2


Napëpë - parte 3

Napëpë - parte 4

Alguns dos entrevistados são geneticistas que falam da importância de estudos abrangentes do DNA humano para que se possa entender o passado da humanidade. O respeito ao povo Yanomami poderia ser menosprezado em favor do respeito à "humanidade como um todo".

De que serve entender os últimos 100.000 anos da história de uma humanidade que não entende o que é respeito ao próximo? Que não entende nem o seu presente? Que pensa, enfim, que os fins justificam quaisquer meios?


Plágio

Recebi um e-mail em que a Nadja Marin pede para divulgarmos o fato de seu documentário Napëpë (produzido em 2004, como foi dito) já tratar de assuntos que o novo filme de José Padilha, Segredos da Tribo, apresentado este ano, aborda como inéditos. Infelizmente, não pude ainda assistir a Segredos da Tribo, mas quem assitiu disse que há, inclusive, cenas idênticas nos dois filmes. E, claro, José Padilha sequer cita o Napëpë.

domingo, abril 11, 2010

Leões de fogo em uma selva de pedra

Ímpeto. Saíram.

Pensaram... Mudaram a idéia. E por caminhos familiares se perderam e por caminhos estranhos se acharam. Nas barrigas de bestas (dominadas; dominantes), pelas quais se precisa passar para poder sair, com vermes dóceis-feios ou agressivos-feios, estúpidos.

Por caminhos estranhos encontraram.

Passos dados sem limites, sem preconceitos, apenas com intenção e destino. Destinos intermediários e destino final (o que é final?).

Por caminhos estranhos encontraram.

A essência do fogo alcançada. Destino final infinito.


sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Bolo de Cenoura


Uma amiga do curso de francês, Rhegina Nasz, passou pra turma toda uma receita de bolo de cenoura com calda de chocolate "que não falha nunca" (não desanda, não sola). Eu experimentei e, realmente, o bolo é uma delícia e a receita, simples.

Ela tirou a receita do livro "The baker´s dozen Cookbook" (Flo Braker, John Phillip Carrol e mais 11 caras), editora Rick Rodgers. Dá pra comprar na Amazon (www.amazon.com)

O bolo era bem maior, mas demorei pra tirar fotos e só sobrou o que vocês estão vendo ali em cima.

Depois vou experimentar uma outra receita que ela passou, essa de bolo de chocolate. Quando fizer, coloco a receita e fotos aqui também.

Bolo de Cenoura

3 cenouras pequenas
4 ovos
3/4 de xic. oleo
2 xic açucar
3 xic farinha de trigo
1 col de sopa de fermento
1 pitada de sal

Peneire a farinha, o sal e o fermento em uma tigela.

O resto vai para o liquidificador até ficar parecendo uma vitamina.

Junte o conteudo do liquidificador com a farinha aos poucos até ficar uma massa lisa (tem que ser na mão, senão desanda, mas só é preciso mexer até ficar uma massa uniforme).

Coloque tudo em uma forma de tabuleiro untada e enfarinhada - de bom tamanho (tipo 22 x 28) e alta (uns 5 cm) porque o bolo cresce bem.

O bolo deve ser assado em forno médio (cerca de 180 o.C). O tempo varia com cada forno, mas é rapidinho. Depois de 20 minutos, ela recomenda verificar a cada 5 minutos com o teste do palitinho (espetar um palito de dente no centro do bolo; se sair limpinho é porque esta pronto). Não deixe a grelha no primeiro slot (mais baixo), para não correr o risco de queimar o fundo do bolo.

Depois que esfriar, desenformar o bolo e cobrir com calda de chocolate.


Calda de chocolate (vitrificada)

4 col sopa de açucar
1 col sopa manteiga
4 col. chocolate em pó (do Padre)
2 col. sopa de leite

Levar ao fogo mexendo sempre. Depois que ferver, esperar uns 3 minutos e desligar (a calda fica brilhante quando chega no ponto certo). Despejar sobre o bolo e esperar esfriar para vitrificar (do contrário vai grudar na faca e fazer uma sujeira do cão).

Seguindo dica da própria Rhegina, eu não tirei o bolo da forma e despejei a calda com o bolo ainda quente. Depois que esfria é facil de cortar e tirar da forma os pedaços. Não fica com aqueles chocolatinhos escorrendo dos lados, mas fica mais gostoso.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

terça-feira, fevereiro 02, 2010

There is one in all of us

Fui assistir "Onde Vivem os Mosntros" quinta-feira passada. Gostei muito do filme.

De forma resumida, a história (baseada no livro homônimo de Maurice Sendak) é sobre Max, um garoto de 9 anos que brinca sozinho e tenta o tempo todo chamar a atenção de sua irmã e de sua mãe. Uma noite, irritado por não conseguir fazer sua mãe brincar no "forte" que ele montou em seu quarto e com ciúmes por vê-la com o namorado, Max faz barulho, sobe na mesa, imita um animal e pede para ser alimentado (vestido com roupa de lobo, que usa durante o filme inteiro). Sua mãe perde a paciência e, quando tenta segurá-lo, recebe uma mordida. Ela grita que Max está fora de controle e ele foge de casa correndo. Max entra num barco à vela que encontra e, depois de vários dias no mar, chega, finalmente, a uma ilha, na qual vivem as "coisas selvagens". Para evitar ser comido, Max diz que já foi rei de coisas muito maiores que os monstros e que tem muitos conhecimentos e poderes especiais; e o principal: que pode mantê-los unidos e fazê-los felizes. Os monstros o nomeam seu rei, prontamente.

(para um resumo um pouco mais completo: http://en.wikipedia.org/wiki/Where_the_Wild_Things_Are_%28film%29)

Os "monstros" (as "wild things") acabam sendo representações das atitudes que dificultam a convivência de uma família. Há o monstro que acha que sabe o que é melhor para todos e que, na busca de manter a união, acaba esquecendo de levar em conta o que os outros realmente querem; há o omisso, que só assiste a tudo que se passa (e só fala uma frase já ao final do filme); há o que se sente rejeitado (e que acaba sendo, realmente, posto de lado pelos outros); há a que só reclama; há a que desiste e quer ir embora e o que fica conformado, sem coragem de enfrentar a tirânia de um deles... There's one in all of us:



Nessa experiência, Max pode sentir como é estar do outro lado do que está acostumado: como é ter a responsabilidade de manter uma família unida e feliz, sendo apenas um menino, comum, humano, "just regular". Como sua mãe é apenas uma mulher, comum, humana, "just regular".

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Leila Míccolis



    21 ou 1º de abril?


Brasil
gentil,
varonil,
de céu primaveril,
cor de anil,
e de encantos mil?
Puro ardil...

(Leila Míccolis)

www.blocosonline.com.br/literatura/autor_poesia.php?id_autor=6&flag=nacional

terça-feira, janeiro 05, 2010

Distância necessária entre nudges no programa de comunicação instantânea Windows Live Messenger: a velocidade necessária para uma contagem aproximada

Descobri exatamente quanto tenho que contar entre um nudge e outro, após vários testes. Preciso contar até 19 (dezenove). Aproveitei para testar se ainda seria necessário esperar mesmo enviando algum texto entre um nudge e outro. Minha hipótese era de que não seria necessário, pois o envio de um texto significaria que a pessoa que o está enviando não deseja apenas importunar o destinatário com consecutivos nudges. A hipótese não se confirmou (o que faz sentido, uma vez que eu só queria mesmo descobrir uma forma de importunar mais o destinatário, sem ter que esperar a contagem até 19 [dezenove]).

Como a minha contagem até 19 (dezenove) é muito subjetiva e, portanto, pouco precisa, contei quantos segundos (medida mais confiável) constituíam o Intervalo Mínimo entre Nudges (IMN). O resultado foi que o IMN é de 11 (onze) segundos completos. (Me questiono qual seria a razão para a escolha do número 11 [onze], em vez de 10 [dez] ou 15 [quinze]; este é um problema que deve ser melhor estudado em pesquisa futura).

Isso significa que eu conto até o número 19 (dezenove) em 12 (doze) segundos. Logo, 1,583 (um vírgula quinhentos e oitenta e três) número a cada segundo. Considerando que são pronunciadas 97 (noventa e sete) letras, do algarismo 1 (um) ao número 19 (dezenove), eu as pronuncio numa velocidade de 8,083 (oito vírgula zero oitenta e três) letras por segundo. A média de letras em um número é 7,462 (sete vírgula quatrocentos e sessenta e dois, valor aproximado). Portanto, preciso diminuir minha velocidade em 0,621 (zero vírgula seiscentos e vinte e um) letra por segundo, para que eu fale aproximadamente 7,462 (sete vírgula quatrocentos e sessenta e dois) letras por segundo. Só assim vou conseguir contar até 12 (doze) em 12 (doze) segundos, aproximadamente um algarismo ou número por segundo correspondente.

Vou precisar comprar um cronômetro mais preciso que os cronômetros comuns para testar. Ou eu posso simplesmente usar aquela técnica pouco científica e senso-comum de falar "mil" antes dos números... Mas acho que não vai ser tão eficiente.

Vou procurar um cronometro.

sábado, dezembro 26, 2009

Morte

Hoje recebi a notícia do falecimento de uma amiga de infância, Verônica Kubo. Ela faleceu aos 18 anos, ontem (25/12/09, Natal), em um acidente de carro na Rod. Castelo Branco.
Fiquei chocado e triste. Pela injustiça da morte de alguém tão jovem, que, assim como eu, devia ter planos e mais planos para o futuro. Por pensar na família que ela deixou para trás. Por saber que aquela pessoa, tão de repente e simplesmente, não existe mais aqui.
Nunca esperamos a morte de ninguém, muito menos de pessoas assim jovens. Pensamos no quanto ela ainda teria para viver, nos planos que devia ter, em como seria se ela vivesse o que devia viver. Por isso parece tão injusto. Mas, ao mesmo tempo, a morte e tão imprevisível e inevitável que parece acima de julgamentos sobre sua justiça. E, na verdade, aquelas possibilidades não existem. O que acontece só acontece de um jeito. O "como seria" só pode existir na nossa mente. "Como foi" é a verdade. Ela viveu o que tinha para viver.
Mesmo assim, atormenta a evidência de que "a vida é uma agitação feroz e sem finalidade/Que a vida é traição". Que assim como os dela, todos os planos podem ser interrompidos a qualquer momento, sem possibilidade de contestação, pela chegada ao único destino da vida. É como se a morte fosse o único e verdadeiro "plano", que é o plano da própria vida.
Mas, na verdade, acredito que ela ainda existe, de alguma outra forma, em algum outro lugar. Existe algo mais em nós, além da vida. Não somos a vida. A vida está em nós. A vida estava nela. Agora ela continua, sem essa vida. E esse mistério é inquietante, graças à quase impossibilidade de nos desapegarmos da vida, não importa o que aconteça.