domingo, março 22, 2009

Eu queria

Ser mais de um!
Não precisar dormir!
Melhor: que o tempo não passasse enquanto eu durmo.
Que o tempo não passasse! Não existisse.
Eu queria ser nuer.

quarta-feira, março 11, 2009

Desapego

Por que é tão difícil se desfazer de coisas?
Não sei se é por puro apego ao passado. Na verdade, é também por medo do futuro ("sempre pode acontecer algo que me faça precisar disto de novo"). E o apego ao passado e o medo do futuro vão tomando o espaço do presente.
O passado não vai se repetir. Não que não seja importante a memória que se guarda dele. Mas não adianta querer guardar lembranças de tudo que acontece. E será que é importante mesmo lembrar o que esqueceríamos naturalmente? Guardar uma lembrança externa de algo que já deixou de nos marcar por dentro? A sensação de encontrar um ingresso de cinema, meio amarelado, entre as páginas de um livro que se está relendo, é uma delícia. Mas não compensa a sensação de opressão que a falta de espaço cria no presente. A questão é ser mais seletivo com o que guardar. Mas como saber o que será uma lembrança importante no futuro?!
O futuro está sempre perto demais e é imprevisível demais para ser prevenido e longe demais para guardarmos algo que incomoda esperando por ele. Basta a cada dia o seu mal.
O que importa não é a origem; tampouco o destino: é o caminho. E não podemos aproveitá-lo quando estamos sobrecarregados - seja pelo passado, seja pelo futuro.
Por tudo isso, de tempos em tempos, temos que revirar o quarto e o armário e nos livrarmos do máximo de coisas possíveis. Abrir espaço para o novo.
Melhor ainda: não de tempos em tempos; todo dia, a todo momento, nos livrarmos de tudo que ocupa espaço inútil ou fica no meio do caminho.

Canção dos Tecelões de Lyon

Pour gouverner il faut avoir
Manteaux ou rubans en sautoir (bis)
Nous en tissons pour vous, grands de la terre,
Et nous, pauvres canuts, sans drap on nous enterre.
C'est nous le canuts
Nous sommes tout nus. (bis)
Mais notre règne arrivera
Quand votre règne finira.
Alors nous tisserons le linceul du vieux monde
Car on entend déjà la revolte qui gronde.
C'est nous le canuts
Nous n'irons plus nus.

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"Para governar é preciso ter
Mantos ou condecorações em brasões
Nós tecemos para vós, grandes da terra,
E nós, pobres operários, sem lençol onde nos enterrar.
Somos nós os operários
Nós estamos nus.
Porém, chegará o nosso reino
Quando vosso reino terminar.
Então nós teceremos a mortalha do velho mundo
Porque já se percebe a revolta que troa.
Somos nós os operários
Não estaremos mais nus."

(Hobsbawm, Eric J. A Era das Revoluções. p. 221)