sábado, setembro 29, 2007
Ditaduras
A invasão da PUC
Luiza Nagib Eluf[i]
O ano de 1977 foi marcado por episódios determinantes para a restauração da democracia no País. Em 8 de agosto, foi lida no pátio da Faculdade de Direito da USP a célebre Carta aos Brasileiros, de autoria do professor Goffredo da Silva Telles Junior. Na noite de 22 de setembro, soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, comandados pelo então secretário de Segurança Pública, coronel Erasmo Dias, invadiram a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, situada na Rua Monte Alegre, no Bairro de Perdizes, e prenderam os alunos que ali estavam reunidos, provenientes de várias faculdades. O motivo alegado era a desobediência dos estudantes, que teimavam em recriar sua entidade nacional, a UNE, que fora banida por determinação da ditadura militar que imperava no País.
A invasão foi um ato de selvageria, de truculência, de arbitrariedade, que só poderia ter sido concebido pela mente obscura e doentia dos opressores de plantão. Os soldados entraram batendo e gritando ofensas de todo calão, lançando bombas sabe-se lá de que efeitos, mas o fato é que muitas pessoas passaram mal, desmaiaram e pelo menos duas alunas da universidade foram gravemente queimadas.
É evidente que os estudantes estavam desarmados. É evidente, também, que a manifestação de insubordinação diante da proibição de se reunirem era perfeitamente justificada.
É próprio da juventude desafiar certas normas. É natural e saudável que assim o seja, ou o mundo continuaria sempre igual, não progredindo jamais. É papel da mocidade promover a renovação, e os estudantes da época queriam se livrar da ditadura tenebrosa que engessava o ensino, punia a participação política e queria limitar o saber.
A reunião estudantil da noite de 22 de setembro de 30 anos atrás tinha como objetivo recuperar os ideais de melhores condições de vida para a população, propondo a restauração das liberdades democráticas e a instauração do Estado de Direito. Nada mais legítimo.
No entanto, a ação policial de invadir uma escola por razões políticas (!), desrespeitando qualquer parâmetro de civilidade, não pode ser esquecida, para que não mais se repita.
Em matéria publicada neste jornal no último dia 22, o coronel Erasmo Dias, ao se defender, declarou que “tinha muita mulher lá e mulher não tem jeito para correr, tem perna presa”.
Com essa frase o coronel demonstra, mais uma vez, sua visão distorcida sobre os fatos da vida. Primeiramente, porque evidencia um preconceito inadmissível contra a população feminina. Segundo, porque ele estranhou a presença de mulheres no local, fato corriqueiro nas universidades já naquela época – só ele desconhecia essa circunstância. Terceiro, porque mulher não tem “perna presa” coisa nenhuma e qualquer pessoa, mulher ou homem, que for atingida por bomba atirada pela polícia vai se queimar, correndo ou parada.
Passados tantos anos, a única conclusão sensata a que o coronel deveria ter chegado é que a operação foi um desastre. Sacrificou pessoas inocentes que estavam pacificamente reunidas, causando-lhes seqüelas indeléveis tanto físicas quanto psicológicas, e colaborou para enfraquecer a ditadura. É certo que o coronel Erasmo não foi o único responsável pela ação repressora. Foi do governador do Estado à época, Paulo Egydio Martins, que partiu a ordem.
E que não se minta sobre o comportamento dos estudantes. Eles não deram causa à brutalidade. Não tentaram agredir os policiais com atos ou palavras. Ao perceberem a entrada da tropa de choque no campus, os grupos estudantis não reagiram. Correram para dentro do prédio, subindo escadas e rampas, procurando abrigo nas salas de aula, até alcançarem o último andar, onde foram encurralados e presos. Não sem antes sofrerem espancamento indiscriminado com cassetetes e serem intoxicados com quantidades absurdas de gás lacrimogêneo. Posso descrever muito bem o que aconteceu porque eu lá estava, com meu irmão e minha irmã. Éramos, os três, alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e havia outros colegas conosco, que hoje são juízes, advogados, promotores de Justiça. Fomos todos levados a um estacionamento próximo, onde se fez uma triagem. Os alunos da PUC foram liberados e os da USP seguiram, de ônibus, para o quartel da Polícia Militar. Alguns professores também foram presos.
Meus pais ficaram em desespero, sem notícias dos filhos, durante toda a madrugada em que os estudantes, mesmo confinados, continuavam a ser submetidos a emanações de gás lacrimogêneo. Nunca fui omissa, nunca me senti diminuída por ser mulher. Ainda que consciente dos riscos que corria, achei que me arrependeria se não comparecesse àquele ato de repúdio à ditadura. Hoje me orgulho da decisão que tomei.
Além disso, lembro-me bem de que poucos de nós acreditavam que a polícia invadiria as dependências da universidade. Algum tempo antes, houvera um episódio semelhante na Faculdade do Largo de São Francisco. Os alunos reviveram a “tomada” das Arcadas em protesto contra a ditadura e a polícia acorreu ao local para reprimir o ato. Só que não conseguiu entrar. Quebraram os vidros e atiraram bombas de gás lacrimogêneo para dentro, mas o diretor Pinto Antunes não permitiu que arrombassem as portas do prédio. Na invasão da PUC, no entanto, a repressão não respeitou ninguém.
Depois do fato, o que resta dele é a sua versão. Da avaliação do ocorrido, ficou claro que os estudantes não sofreram essa violência em vão. A invasão da PUC abalou irremediavelmente os alicerces, já desgastados, do regime de opressão política. Os estudantes não foram ingênuos, foram heróis.
Que não se perca a dimensão histórica desse ato de bravura coletiva.
[i] Luiza Nagib Eluf é procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, atualmente afastada da carreira para exercer o cargo de subprefeita da Lapa.
quarta-feira, setembro 26, 2007
António Aleixo
Meu aspecto te enganou:o que a gente é não se vê;pergunta a outrem quem sou,pois o que sou nem eu sei.Os meus versos o que são?Devem ser, se os não confundo,pedaços do coraçãoque deixo cá neste mundo.Não escolho os amigos à toa,sempre temendo algum perigo:primeiro, escolho a pessoa;depois, escolho o amigo.Diz tudo quanto quiseres,mas eu, pr'a te ser sincero,daquilo que tu disseressó acredito no que quero.
domingo, setembro 16, 2007
E se um dia...?
- Sabe, Su, acaba de me ocorrer uma idéia terrível.
- O que foi?
- Não seria medonho se um dia, no nosso mundo, os homens se transformassem por dentro em animais ferozes, como os daqui, e continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse distinguir uns dos outros?
(Príncipe Caspian, As Crônicas de Nárnia - C.S. Lewis)
sábado, setembro 15, 2007
Geração - Dilei
Meu pessimismo é real
E nossas leis foram feitas
Pra quem tem grana pra pagar.
Uma nova alienação
Disfarçada de consciência.
Discursos inflamados,
Braços cruzados, papo pelo ar.
E você vai me perguntar
Onde reside a esperança,
Se uma geração inverte o seu caminhar?
A ignorancia flerta com o desespero
De não ter o que comer,
Como garantir o pão?
Não cabe a mim apenas reclamar,
Não adianta só cantar.
De todas as maneiras
O exemplo é a melhor forma de ensinar.
Muda teu pensar,
Muda teu querer,
Idéias, ideais,
Filosofia pra viver.
E se você quiser mudar,
Saiba o passado que terminou,
Tantas marcas a desvendar,
Um novo rumo que se traçou
A um passo de um caminho sem volta.
http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/dilei/
sexta-feira, setembro 07, 2007
Que engano...
Genoma
Fernando Reinach
fernando@reinach.com
Biólogo
Em 2001, Craig Venter e Francis Collins, líderes de grupos rivais, anunciaram que o genoma humano havia sido seqüenciado. A corrida foi dada por empatada. O que não explicaram é que o "genoma humano" não passa de uma abstração.O que tem existência física são seres humanos individuais e seus respectivos genomas; o meu genoma, o seu e o do Pelé. Agora, seis anos depois, finalmente foi seqüenciado o primeiro genoma de um ser humano. E o ser humano auto-escolhido foi Craig Venter.
Cada um de nós é único. O "ser humano", assim como o "genoma humano", só existe na nossa imaginação e representa uma média mental de todos os seres humanos. Da mesma maneira que é impossível fotografar "o ser humano", é impossível seqüenciar seu genoma. O que os grupos rivais publicaram em 2001 foi uma espécie de montagem do que seria um genoma humano típico. O trabalho coordenado por Collins foi feito a partir do DNA de dezenas de pessoas de diferentes etnias. Venter e seu grupo usaram o DNA de 5 pessoas.
Agora a equipe de Venter terminou o seqüenciamento completo de seu genoma. Como possuímos duas cópias de cada um de nossos genes, um herdado de nosso pai e outro de nossa mãe, Venter seqüenciou e identificou cada uma das cópias de cada um de seus genes. Com base nesses dados, foi possível comparar, ao longo de todo o genoma, os genes recebidos de cada um de seus pais, além de comparar o genoma de Venter com a média das dezenas de genomas obtida por Collins.
Venter descobriu que em 44% de seus genes a cópia vinda de seu pai é diferente da cópia vinda de sua mãe. Além disso, quando comparou seu genoma com o genoma médio, observou que havia mais de 3 milhões de mudanças e centenas de milhares de inserções ou deleções de fragmentos de DNA. Isso demonstra pela primeira vez onde residem as diferenças entre os membros da espécie humana.
Venter prometeu tornar pública sua história médica, o que permitirá pela primeira vez uma correlação direta entre um genoma humano e as características do dono daquele genoma, o que inaugura a era da genômica individual. Com empresas desenvolvendo métodos para seqüenciar o genoma de uma pessoa por menos de US$ 1 mil, a informação vai revolucionar a medicina preventiva.
Muitos criticam Venter por seqüenciar seu próprio genoma. Ele responde que foi a melhor maneira de debelar o medo que a maioria das pessoas tem da idéia de examinar o próprio DNA. Faz parte da tradição humana divulgar publicamente segredos íntimos em memórias ou biografias. Venter inaugurou uma nova fase nessa tradição. Nos próximos anos, "comentaristas de genoma" deverão descobrir outras características além da propensão ao alcoolismo ou às doenças cardíacas.
Mais informações em: The diploid genome sequence of an individual human, PLoSBiology, volume 5 (10), página e254, ano 2007.
(Retirado d'O Estado de São Paulo, Primeiro Caderno, 06/09/2007)
quarta-feira, setembro 05, 2007
Vídeo
Sombra deve ser uma coisa estranha pra crianças... Não lembro o que eu pensava da sombra. Não lembro nem de pensar em sombra. Mas, hoje, pensando em como deve ser a sombra para um criança, deve ser estranha. Uma coisa que se mexe sempre junto com você, sem formas muito definidas e que você não consegue tocar. Sempre grudada!
Tá, mas a garotinha exagerou... =/
(pois é... o vídeo no blog não funcionou. Que grande porcaria... carrega eternamente e quando chega em um pouco mais da metade começa de novo, lerdaaamente. Não há sequer mensagem de erro. Você que espere que nem um idiota mesmo! xD)
sábado, setembro 01, 2007
Miss Saigon
Ontem, fui assistir ao Miss Saigon. Adorei! É muito bom e não frustrou nem um pouco todas as expectativas que eu tinha.
A história é linda, os cenários são muito bem elaborados, o Teatro Abril é excelente, as músicas e vozes, lindas e, no que diz respeito à Guerra do Vietnã, não mostra os americanos como os justos e bonzinhos. Ao contrário, um sargento, após a guerra, canta que "Os filhos são de todos nós", falando das crianças que eles geraram e deixaram para trás com as mulheres vietnamitas. Essa parte serve como uma metáfora: as crianças deveriam ser cuidadas por todos, como filhos. "Os filhos são de todos nós", as crianças são responsabilidade de todos nós.
E foi tanto choro no teatro... rs Mas o espetáculo tem também comédia. Essa parte fica por conta do Engenheiro, representado por Marcos Tumura. E, junto com a comédia, a sátira (duas coisas que combinam muito bem): sátira ao "American Dream", através da visão do Engenheiro de que a vida é perfeita para todos na América.
Para quem não sabe, o tema é inspirado na ópera Madama Butterfly. Não tinha certeza se o final seria o mesmo ou se mudariam. Perto dele comecei a achar que mudaria, mas não mudou. Ainda bem... não seria tão bom sem o final que tem.
Me arrependi de não ter comprado uma caneca na saída. Eles estavam vendendo camisetas, canecas, canetas, lápis, chaveiros e bonés (tudo que eu me lembro), com o símbolo do musical. A caneca era linda.
Mas tenho de lembrança o livrinho que eles distribuem no final com informações sobre o musical, os atores etc.
Se eu tiver a chance, vou assistir de novo, com certeza.
Eu sou de um mundo tão longe
tão longe do teu
Eis que essa noite qualquer
nos juntou no breu."