Lendo O Mundo de Sofia (Hume, Berkeley...), de Jostein Gaarder, acabei me "inspirando" para mudar o "quem sou" do Orkut e fiz o texto que copio mais abaixo. Lendo Alberto Caeiro, nesse fim de semana, vi que, como no poema do post anterior, ele pensava de forma um pouco parecida com a minha (apesar de bases opostas: a dele, não "pensar", apenas "sentir" e a minha, "pensar demais") . Claro: ele tinha mais certeza do que dizia e, principalmente, talento. :)
Só queria a sua segurança... (Mas, só pelo fato de querê-la, já me afasto muito de toda a filosofia de Caeiro, que não era para ser filosofia. Que loucura que é Caeiro...!)
"Quem sou eu?
Será que eu ainda vou ser o mesmo depois de escrever isso? O que diz quem se é? Sou o que eu faço, o que eu penso, o que eu digo, o que já vivi, o que "quero"? Tudo isso? Nada disso? Alguma coisa inexplicável, que simplesmente "é"?
Existe alguma coisa na minha cabeça, que acho que sou eu, essa "voz", que não é bem voz, que parece estar sempre lá, mesmo quando o resto muda. Acho que isso deve ser quem sou. Mas não sei descrever essa alguma coisa. Só sei que ela pensa muito. "Eu" penso muito. Talvez demais. Às vezes, cansa até. Por isso, mudo muito também (inclusive o pensamento). Isso complica tudo. Por exemplo: daqui a algum tempo, vou apagar tudo isso e simplesmente por algo do tipo "sou isso e aquilo". Depois, vou por que "não sou ninguém". Depois posso por um texto de que gosto. Depois, posso simplesmente não por nada. Já fiz tudo isso.
O melhor é o seguinte: se você me conhece, vai ter alguma "imagem" de mim. Essa imagem é quem sou pra vc. E nada que eu escreva vai te fazer mudar essa imagem. Só, talvez, o tempo."
quarta-feira, junho 04, 2008
Alberto Caeiro
XXIX
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
Do que quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo de sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...
(em O Guardador de Rebanhos)
Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
Do que quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.
Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo de sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...
(em O Guardador de Rebanhos)
sexta-feira, março 21, 2008
Ricardo Reis e A Era da "Inocência"
"Frutos, dão-os as árvores que vivem,
Não a iludida mente, que só se orna
Das flores lívidas
Do íntimo abismo.
Quantos reinos nas mentes e nas coisas
Te não talhaste imaginário! Tantos
Sem ter perdeste,
Sonhos cidades!
Ah, não consegues contra o adverso muito
Criar mais que propósitos frustrados!
Abdica e sê
Rei de ti mesmo."
(Ricardo Reis - Fernando Pessoa)
Hoje, fui à Av. Paulista, com 3 amigos, passear. Íamos ao cinema e a uma exposição do SESC. Acabamos assistindo só ao filme, pois a sessão que queriamos tinha mudado e tivemos que ir a outro cinema.
Já havia algumas semanas que eu queria assistir ao L'Âge des Tenébres (cujo título foi traduzido, ridiculamente, por "A Era da Inocência"), considerado o fechamento de uma trilogia com "O Declínio do Império Americano" e "As Invasões Bárbaras", de Denys Arcand. Finalmente, vi e gostei.
A poesia de Ricardo Reis acima poderia ter sido escrita para Jean-Marc Leblanc, o personagem principal (poesia que, ainda sem saber disso, copiei da livraria que visitamos antes da sessão). Jean-Marc é quase invisível para sua mulher e filhas, que estão sempre no celular ou com fones nos ouvidos; sua mãe, aparentemente a única família restante, está cada vez mais ausente psicologicamente, internada num asilo; seu trabalho, no governo, é ouvir pessoas em "situações piores que a dele" (e, geralmente, dizer que não há nada que se possa fazer - pois "é a lei" - ou que o assunto é de outro departamento). Em meio a isso e a tudo mais que ocorre, ele vive se refugiando em fantasias: se vê um homem famoso, admirado, ganhador de prêmios, com mulheres apaixonadas. Na vida real, porém, apenas aceita e "vai levando", frustrado, tudo que acontece. [Daqui pra frente, vem spoiler. Estou avisando...]
Quando sua mulher vai viver com o chefe em Toronto, ele começa a procurar mudar. O problema seria saber como fazê-lo, mas, no fundo, ele sabe que a primeira coisa a fazer é deixar realmente para trás a vida que tinha levado até alí. E ter a coragem para isto é o difícil: aceitar que aqueles anos passaram. Mesmo que tenham sido anos nos quais ele não fôra feliz, deixá-los para trás é aceitar, de uma vez, que não há mais nada que se possa fazer quanto àquela parte frustrada de sua vida. (Mesmo que o casamento fosse infeliz, ele estava casado "havia anos".)
Ele conhece uma mulher que o leva para um evento temático da Idade Média, onde ela é uma condessa, disputada por cavaleiros em duelos. Lugar cheio de pessoas que, como ele, buscam algum refúgio na fantasia. A crítica que ele faz a esta mulher (de que aquilo não seria uma solução), a morte de sua mãe, que "não tinha ninguém", e a raiva que sente ao ver que sua mulher voltou como se nada tivesse acontecido, finalmente o fazem decidir se despedir de suas próprias fantasias.
Ele vai morar na casa vazia dos pais, em uma praia. Lá, começa a ajudar a cultivar e cuidar do jardim e da horta, junto com seus novos vizinhos, enquanto cultiva e cuida de si mesmo e de sua vida "nova", sem mais fantasias.
[Acabou o spoiler]
Além disso, o filme possui inúmeros outros detalhes e críticas ótimos, trilha sonora que capta bem o clima do filme (há uma cena em que a música se mistura ao barulho do trêm, captando, mais do que o filme, o próprio ritmo e ansiedade da contemporaneidade) e bons atores (a atuação é bem focada em Marc Lebréche).
A história não é uma continuação de "Invasões Bárbaras", mas creio que consideram que faz parte da mesma trilogia por ser mais uma crítica de Denys Arcand (e para aproveitar a fama dos outros dois filmes).
Ainda não vi O Declínio do Império Americano, mas já comprei e vou ver esta semana.
Não a iludida mente, que só se orna
Das flores lívidas
Do íntimo abismo.
Quantos reinos nas mentes e nas coisas
Te não talhaste imaginário! Tantos
Sem ter perdeste,
Sonhos cidades!
Ah, não consegues contra o adverso muito
Criar mais que propósitos frustrados!
Abdica e sê
Rei de ti mesmo."
(Ricardo Reis - Fernando Pessoa)
Hoje, fui à Av. Paulista, com 3 amigos, passear. Íamos ao cinema e a uma exposição do SESC. Acabamos assistindo só ao filme, pois a sessão que queriamos tinha mudado e tivemos que ir a outro cinema.
Já havia algumas semanas que eu queria assistir ao L'Âge des Tenébres (cujo título foi traduzido, ridiculamente, por "A Era da Inocência"), considerado o fechamento de uma trilogia com "O Declínio do Império Americano" e "As Invasões Bárbaras", de Denys Arcand. Finalmente, vi e gostei.
A poesia de Ricardo Reis acima poderia ter sido escrita para Jean-Marc Leblanc, o personagem principal (poesia que, ainda sem saber disso, copiei da livraria que visitamos antes da sessão). Jean-Marc é quase invisível para sua mulher e filhas, que estão sempre no celular ou com fones nos ouvidos; sua mãe, aparentemente a única família restante, está cada vez mais ausente psicologicamente, internada num asilo; seu trabalho, no governo, é ouvir pessoas em "situações piores que a dele" (e, geralmente, dizer que não há nada que se possa fazer - pois "é a lei" - ou que o assunto é de outro departamento). Em meio a isso e a tudo mais que ocorre, ele vive se refugiando em fantasias: se vê um homem famoso, admirado, ganhador de prêmios, com mulheres apaixonadas. Na vida real, porém, apenas aceita e "vai levando", frustrado, tudo que acontece. [Daqui pra frente, vem spoiler. Estou avisando...]
Quando sua mulher vai viver com o chefe em Toronto, ele começa a procurar mudar. O problema seria saber como fazê-lo, mas, no fundo, ele sabe que a primeira coisa a fazer é deixar realmente para trás a vida que tinha levado até alí. E ter a coragem para isto é o difícil: aceitar que aqueles anos passaram. Mesmo que tenham sido anos nos quais ele não fôra feliz, deixá-los para trás é aceitar, de uma vez, que não há mais nada que se possa fazer quanto àquela parte frustrada de sua vida. (Mesmo que o casamento fosse infeliz, ele estava casado "havia anos".)
Ele conhece uma mulher que o leva para um evento temático da Idade Média, onde ela é uma condessa, disputada por cavaleiros em duelos. Lugar cheio de pessoas que, como ele, buscam algum refúgio na fantasia. A crítica que ele faz a esta mulher (de que aquilo não seria uma solução), a morte de sua mãe, que "não tinha ninguém", e a raiva que sente ao ver que sua mulher voltou como se nada tivesse acontecido, finalmente o fazem decidir se despedir de suas próprias fantasias.
Ele vai morar na casa vazia dos pais, em uma praia. Lá, começa a ajudar a cultivar e cuidar do jardim e da horta, junto com seus novos vizinhos, enquanto cultiva e cuida de si mesmo e de sua vida "nova", sem mais fantasias.
[Acabou o spoiler]
Além disso, o filme possui inúmeros outros detalhes e críticas ótimos, trilha sonora que capta bem o clima do filme (há uma cena em que a música se mistura ao barulho do trêm, captando, mais do que o filme, o próprio ritmo e ansiedade da contemporaneidade) e bons atores (a atuação é bem focada em Marc Lebréche).
A história não é uma continuação de "Invasões Bárbaras", mas creio que consideram que faz parte da mesma trilogia por ser mais uma crítica de Denys Arcand (e para aproveitar a fama dos outros dois filmes).
Ainda não vi O Declínio do Império Americano, mas já comprei e vou ver esta semana.
domingo, março 02, 2008
A Cadeira de Prata - Nárnia
A Rainha do Submundo
"[...] Uma cachoeira de lembranças caiu sobre Jill [...], mas pareciam imagens apagadas e distantes. (Drum-drim-drim, repenicava o bandolim.) Jill não conseguia lembrar-se das coisas de nosso mundo. E dessa vez não lhe ocorreu que estava sendo enfeitiçada, pois a magia atingira o auge. [...]
O príncipe e as duas crianças estavam de cabeça caída, as faces coradas, os olhos semicerrados; fugira-lhes toda a energia, o sortilégio era quase total. [...]
Mas Brejeiro, juntando desesperadamente o resto de suas forças, caminhou até a lareira [...] e espezinhou as brasas, apagando um pouco o fogo. [...] O doce e pesado [inebriante] aroma diminuiu muito. [...] E a própria dor esclareceu completamente a cabeçca de Brejeiro, pois não há nada como um impacto doloroso para desfazer certas espécies de magia.
— Uma palavrinha, dona - disse ele, mancando de dor -, uma palavrinha: tudo o que disse é verdade. Sou um sujeito que gosta logo de saber tudo para enfrentar o pior com a melhora cara possível. Não vou negar nada do que a senhora disse. Mas mesmo assim uma coisa ainda não foi falada. Vamos supor que nós sonhamos, ou inventamos, aquilo tudo - árvores, relva, sol, lua, estrelas e até Aslam. Vamos supor que sonhamos: ora, nesse caso, as coisas inventadas parecem um bocado mais importantes que as coisas reais. Vamos supor então que esta fossa, este seu reino, seja o único mundo existente. Pois, para mim, o seu mundo não basta. E vale muito pouco. E o que estou dizendo é engraçado, se a gente pensar bem. Somos apenas uns bebezinhos brincando, se é que a senhora tem razão, dona. Mas quatro crianças brincando podem construir um munbdo de brinquedo que dá de dez a zero no seu mundo real. Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo. Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero vivier como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. Assim, agradecendo sensibilizado a sua ceia, se estes dois cavalheiros e a jovem dama estão prontos, estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima. Não que nossas vidas devam ser muito longas, certo; mas o prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz. [...]"
O príncipe e as duas crianças estavam de cabeça caída, as faces coradas, os olhos semicerrados; fugira-lhes toda a energia, o sortilégio era quase total. [...]
Mas Brejeiro, juntando desesperadamente o resto de suas forças, caminhou até a lareira [...] e espezinhou as brasas, apagando um pouco o fogo. [...] O doce e pesado [inebriante] aroma diminuiu muito. [...] E a própria dor esclareceu completamente a cabeçca de Brejeiro, pois não há nada como um impacto doloroso para desfazer certas espécies de magia.
— Uma palavrinha, dona - disse ele, mancando de dor -, uma palavrinha: tudo o que disse é verdade. Sou um sujeito que gosta logo de saber tudo para enfrentar o pior com a melhora cara possível. Não vou negar nada do que a senhora disse. Mas mesmo assim uma coisa ainda não foi falada. Vamos supor que nós sonhamos, ou inventamos, aquilo tudo - árvores, relva, sol, lua, estrelas e até Aslam. Vamos supor que sonhamos: ora, nesse caso, as coisas inventadas parecem um bocado mais importantes que as coisas reais. Vamos supor então que esta fossa, este seu reino, seja o único mundo existente. Pois, para mim, o seu mundo não basta. E vale muito pouco. E o que estou dizendo é engraçado, se a gente pensar bem. Somos apenas uns bebezinhos brincando, se é que a senhora tem razão, dona. Mas quatro crianças brincando podem construir um munbdo de brinquedo que dá de dez a zero no seu mundo real. Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo. Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero vivier como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. Assim, agradecendo sensibilizado a sua ceia, se estes dois cavalheiros e a jovem dama estão prontos, estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima. Não que nossas vidas devam ser muito longas, certo; mas o prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz. [...]"
sexta-feira, fevereiro 01, 2008
As Colheres de Cabo Comprido
Conta uma lenda que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.
Foram primeiro ao inferno.
Ao abrirem uma porta, o homem viu uma sala em cujo centro havia um caldeirão de substanciosa sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher, porém de cabo muito comprido, que lhes possibilitava alcançar o caldeirão, mas não permitia que colocassem a sopa na própria boca.
O sofrimento era Grande.
Em seguida, Deus levou o homem para conhecer o céu.
Entraram em uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta e as colheres de cabo comprido. A diferença é que todos estavam saciados. Não havia fome, nem sofrimento. 'Eu não compreendo', disse o homem a Deus, 'por que aqui as pessoas estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?'
Deus sorriu e respondeu:
'Você não percebeu? É Porque aqui eles aprenderam a Dar comida uns aos outros. '
Moral:
Temos três situações que merecem profunda reflexão:
1. Egoísmo : as pessoas no 'inferno' estavam altamente preocupadas com a sua própria fome, impedindo que se pensasse em alternativas para equacionar a situação;
2 . Criatividade: como todos estavam querendo se safar da situação caótica que se encontravam, não tiveram a iniciativa de buscar alternativas que pudessem resolver o problema;
3. Equipe : se tivesse havido o espírito solidário e ajuda mútua, a situação teria sido rapidamente resolvida.
Conclusão:
Dificilmente o individualismo consegue transpor barreiras.
O espírito de equipe é essencial para o alcance do sucesso; uma equipe participativa, homogênea, coesa, vale mais do que um batalhão de pessoas com posicionamentos isolados. Isso vale para qualquer área de sua vida, especialmente a profissional. E, lembre sempre: A alegria faz bem à saúde; estar sempre triste é morrer aos poucos.
(Desconheço o autor. Recebi pela Internet)
Foram primeiro ao inferno.
Ao abrirem uma porta, o homem viu uma sala em cujo centro havia um caldeirão de substanciosa sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava uma colher, porém de cabo muito comprido, que lhes possibilitava alcançar o caldeirão, mas não permitia que colocassem a sopa na própria boca.
O sofrimento era Grande.
Em seguida, Deus levou o homem para conhecer o céu.
Entraram em uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta e as colheres de cabo comprido. A diferença é que todos estavam saciados. Não havia fome, nem sofrimento. 'Eu não compreendo', disse o homem a Deus, 'por que aqui as pessoas estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?'
Deus sorriu e respondeu:
'Você não percebeu? É Porque aqui eles aprenderam a Dar comida uns aos outros. '
Moral:
Temos três situações que merecem profunda reflexão:
1. Egoísmo : as pessoas no 'inferno' estavam altamente preocupadas com a sua própria fome, impedindo que se pensasse em alternativas para equacionar a situação;
2 . Criatividade: como todos estavam querendo se safar da situação caótica que se encontravam, não tiveram a iniciativa de buscar alternativas que pudessem resolver o problema;
3. Equipe : se tivesse havido o espírito solidário e ajuda mútua, a situação teria sido rapidamente resolvida.
Conclusão:
Dificilmente o individualismo consegue transpor barreiras.
O espírito de equipe é essencial para o alcance do sucesso; uma equipe participativa, homogênea, coesa, vale mais do que um batalhão de pessoas com posicionamentos isolados. Isso vale para qualquer área de sua vida, especialmente a profissional. E, lembre sempre: A alegria faz bem à saúde; estar sempre triste é morrer aos poucos.
(Desconheço o autor. Recebi pela Internet)
domingo, janeiro 27, 2008
Antero de novo
A Um Poeta
(Antero de Quental)
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
(Antero de Quental)
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
Reamantismo
MAIS LUZ!
(Antero de Quental)
"Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!"
(Antero de Quental)
"Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, Lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis!"
Amo a noite, mas o dia também tem sua beleza (nesse poema principalmente) e não haveria um sem o outro. Se não fosse o Realismo do dia, o Romantismo da noite não teria graça. Se não fosse o obscuro, o sol seria ainda mais comum (e, aliás, seus momentos de maior beleza acontecem entre a noite e o dia - nem um nem outro, ou ambos). Se não fosse o mistério da noite, o Realismo não se consideraria Realismo. E, afinal, há romantismo no céu iluminado e realismo demais nos becos escuros noturnos.
"O último poema" - Manuel Bandeira
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
sábado, janeiro 19, 2008
A Última Crônica - Fernando Sabino
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nessa perseguição do acidental, quer um flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaidado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam , discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaidado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam , discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo, limpa o farelo de bolo que lhe cai no colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
(Fernando Sabino. In: Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979-1980. v. 5, p. 40-2.)
Memória Seletiva (Casal Bipolar)
Estava almoçando na padaria, na frente de casa, um dia desses. Do outro lado do balcão, havia um casal. Bem silencioso. Na verdade, nem sabia se estavam realmente juntos, até que ela disse:
— Você sempre tem que derrubar esse monte de comida para fora do prato...!
— Por que você não para de implicar? Se não tem nada de bom para falar, não me encha o saco!
— Você que só me enche o saco...
E a briga continuou, entrando em temas que nada tinham a ver uns com os outros e, muito menos, com o tema inicial: a comida fora do prato. Em cinco minutos, já tinham lavado mais roupa suja do que uma lavanderia em uma semana. Os poucos presentes, quietos, ouvindo irritados.
Até que, de repente:
— Pê... - diz a moça, segurando um riso. - Seu zíper...
Ele fica um pouco vermelho (não por estarem lavando roupa suja na frente de várias pessoas, mas pelo zíper), fecha a braguilha e os dois começam a rir.
Esperei que, após a graça passar, eles continuassem a briga, cada vez mais horrorosa que estava ficando. Mas não. Começou com comida, acabou com zíper. E o que foi dito de injúrias, xingamentos, acusações ficou esquecido, como se nunca tivesse acontecido.
Um casal que será feliz, provavelmente: se esquecem e superam problemas dessa forma, nunca terão, de verdade, um problema, capaz de enfraquecer o relacionamento. Só fico em dúvida se a memória deles não estaria afetada por alguma doença... Será que também não vão esquecer um do outro ou esquecer que se amam? Ou será que eles possuem o raro dom, ou melhor, bênção divina (porque isso seria muito mais que um dom) de esquecer o que é ruim e lembrar o que é bom?
Isso é o que todo mundo quereria! Mesmo que se levasse uma vida meio chata, nunca se daria conta disso por muito tempo.
— Você sempre tem que derrubar esse monte de comida para fora do prato...!
— Por que você não para de implicar? Se não tem nada de bom para falar, não me encha o saco!
— Você que só me enche o saco...
E a briga continuou, entrando em temas que nada tinham a ver uns com os outros e, muito menos, com o tema inicial: a comida fora do prato. Em cinco minutos, já tinham lavado mais roupa suja do que uma lavanderia em uma semana. Os poucos presentes, quietos, ouvindo irritados.
Até que, de repente:
— Pê... - diz a moça, segurando um riso. - Seu zíper...
Ele fica um pouco vermelho (não por estarem lavando roupa suja na frente de várias pessoas, mas pelo zíper), fecha a braguilha e os dois começam a rir.
Esperei que, após a graça passar, eles continuassem a briga, cada vez mais horrorosa que estava ficando. Mas não. Começou com comida, acabou com zíper. E o que foi dito de injúrias, xingamentos, acusações ficou esquecido, como se nunca tivesse acontecido.
Um casal que será feliz, provavelmente: se esquecem e superam problemas dessa forma, nunca terão, de verdade, um problema, capaz de enfraquecer o relacionamento. Só fico em dúvida se a memória deles não estaria afetada por alguma doença... Será que também não vão esquecer um do outro ou esquecer que se amam? Ou será que eles possuem o raro dom, ou melhor, bênção divina (porque isso seria muito mais que um dom) de esquecer o que é ruim e lembrar o que é bom?
Isso é o que todo mundo quereria! Mesmo que se levasse uma vida meio chata, nunca se daria conta disso por muito tempo.
domingo, janeiro 13, 2008
Quando Vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa)
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
(Alberto Caeiro - Fernando Pessoa)
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