quarta-feira, junho 04, 2008

Quem sou eu?

Lendo O Mundo de Sofia (Hume, Berkeley...), de Jostein Gaarder, acabei me "inspirando" para mudar o "quem sou" do Orkut e fiz o texto que copio mais abaixo. Lendo Alberto Caeiro, nesse fim de semana, vi que, como no poema do post anterior, ele pensava de forma um pouco parecida com a minha (apesar de bases opostas: a dele, não "pensar", apenas "sentir" e a minha, "pensar demais") . Claro: ele tinha mais certeza do que dizia e, principalmente, talento. :)
Só queria a sua segurança... (Mas, só pelo fato de querê-la, já me afasto muito de toda a filosofia de Caeiro, que não era para ser filosofia. Que loucura que é Caeiro...!)

"Quem sou eu?
Será que eu ainda vou ser o mesmo depois de escrever isso? O que diz quem se é? Sou o que eu faço, o que eu penso, o que eu digo, o que já vivi, o que "quero"? Tudo isso? Nada disso? Alguma coisa inexplicável, que simplesmente "é"?
Existe alguma coisa na minha cabeça, que acho que sou eu, essa "voz", que não é bem voz, que parece estar sempre lá, mesmo quando o resto muda. Acho que isso deve ser quem sou. Mas não sei descrever essa alguma coisa. Só sei que ela pensa muito. "Eu" penso muito. Talvez demais. Às vezes, cansa até. Por isso, mudo muito também (inclusive o pensamento). Isso complica tudo. Por exemplo: daqui a algum tempo, vou apagar tudo isso e simplesmente por algo do tipo "sou isso e aquilo". Depois, vou por que "não sou ninguém". Depois posso por um texto de que gosto. Depois, posso simplesmente não por nada. Já fiz tudo isso.
O melhor é o seguinte: se você me conhece, vai ter alguma "imagem" de mim. Essa imagem é quem sou pra vc. E nada que eu escreva vai te fazer mudar essa imagem. Só, talvez, o tempo."

Alberto Caeiro

XXIX

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
Do que quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —
O mesmo de sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma...

(em O Guardador de Rebanhos)